domingo, 20 de julho de 2008

Para Ser mais que Lembrado

domingo, 20 de julho de 2008



Por Nádia Burk
O falar menos e fazer mais realmente é um passo a frente, ainda mais quando o que trabalhávamos eram apenas possibilidades, mas serei mais clara.

Há meses vínhamos cogitando a possibilidade de um encontro de troca de experiências entre a FTO-Londrina e o GTO Santo André, no entanto como já disse era apenas uma possibilidade, até o dia que recebemos do companheiro Armindo Pinto um e-mail com dia-hora-local para o evento que seria concretizado não mais como um encontro, e sim como um seminário. Sendo assim, seja feito!

A beleza do evento começou logo pela manhã com a presença deste pequeno-gigante-homem (Armindo Pinto – GTO Santo André) parado a minha frente no hall de entrada do teatro de braços abertos a me receber, olhos brilhantes de empolgação, e um sorriso que além de feliz me pareceu um tanto estressado. Bem eu que a esta altura já me encontrava cansada da longa viagem, fatigada e nervosa pela dificuldade que tivemos de encontrar o caminho, pude naqueles poucos segundos que o abracei sentir-me acalentada e restaurada, pois ali está alguém que acredito, admiro e posso contar.

O Seminário tomou seu rumo, apresentações, mesas e mais apresentações, assim seguiram os quatro dias, mas o que quero enfatizar é o quão humano e humanizador ele foi. A cada encenação apresentavam-se olhos reluzentes, outros admirados, outros ainda questionadores e não unicamente relacionado ao que viam, mas ao que enxergavam do que estavam vendo. O silêncio propício dos que observam e o grito latente e ensurdecedor dos cérebros que absorvem. Nada diferente com relação às mesas de discussão, o privilégio de escutar aqueles que falam de seus trabalhos e suas trajetórias com a alma, com a mesma força e amor dos velhos-novos-bons-tempos.
Pessoas que falam de pessoas enquanto seres humanos vivos cadenciados de vontades e desejos e não enquanto processo numérico anotado em uma velha prancheta prestes a ser impresso num livro que vai para a gaveta do ego.

A maravilha das pessoas está na verdade da qual elas fazem parte, na riqueza de poder ouvir o ser humano que é Zé Renato do Grupo Arena dizer: “É na dramaturgia que se concebe o teatro” ou ainda César Vieira do Grupo União e Olho Vivo: “A arte é patrimônio do Povo e é em nome dele que deve ser exercida”, e saber que foram ditas não por que são frases feitas, mas porque são a mais pura expressão da verdade que acreditam. Ou ainda estar diante do Sergio Audi da Fábrica São Paulo, mas não simplesmente falando com ele, e sim sentindo o que ele diz, sem contar outros humanizadores tão maravilhosos como estes que lá estavam e que não pude conversar.

Você que está lendo deve achar que é exagero da minha parte, mas eu lhe digo, nada é exagerado quando se encontra diante daqueles que falam a mesma língua que você e é com essa cede que me consome que termino com duas frases, uma do Armindo Pinto e a outra do César Vieira: “Devemos aprender a ouvir o que diz a comunidade”, “Nós traçamos experiências culturais, jamais levamos a cultura”.

Obrigado Armindo pelo Seminário

Nádia Burk
Diretora Geral da FTO-Londrina

1 comentários:

armindo

Nádia,
Só o que, e quem me estressa são as pessoas do mal. O antídoto está nas pessoas como você.Daí o olhar cansado e feliz ao mesmo tempo.
Receber vocês aqui foi realmente uma honra, e valeu qualquer stress.
Espero que de alguma forma tenhamos contemplado o desejo de vocês. Percebí que a pergunta sobre como trabalhar com os jovens da periferia ficou sem resposta.
As dinâmicas no Cata Preta tinham esse foco, mas as histórias, como se viu, foram totalmente diferentes daquelas que surgem quando trabalhamos com a periferia, em que todos, ou quase, são filhos de imigrantes, mas vindos de outras misérias e realidades.
A dinâmica de dança, desenvolvida pelo Douglas, o exercício com as imagens apartir das histórias, o exercicio do dançar, responder às perguntas e seduzir o outro a ficar, tudo ao mesmo tempo, o ponto zero, tudo está no nosso arsenal.
A Nathi, minha amiga, criticou a mistura e a zorra que foi em alguns momentos, a oficina com as dinâmicas. Ela tem razão, mas eu queria de alguma forma deixar algumas indicações do desenvolvimento do nosso trabalho.
Não foi tudo o que queríamos, esse encontro, mas foi o possível e acredito que se não ganhamos aqui, de alguma forma cada um de nós carregou consigo algo novo.
Agora nos preparamos para Novembro, depois da loucura ( da boa!) que fou ir à Pernambuco e Paraíba, ir ao sertão, às feiras, às capitais levar o nosso teatro que é tão nosso quanto daqueles com quem dialogamos.
Grande beijo, saudades e até já.
Armindo

 
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